As três tarefas do militante estudantil

    


    Antes de iniciar, é importante ressaltar que o texto a seguir reflete a minha opinião pessoal e minha experiência no movimento estudantil da UNESP de Marília, e, portanto, é produto de um todo social e não pode ser abstraído dele. Também é importante notar que esse é um excerto de um texto não finalizado que ainda pretendo publicar no futuro aqui no blog, trazendo uma análise crítica do processo de formação do CA de Sociais da UNESP de Marília "Olga Benário Prestes". 

    Vamos começar pelo começo: um CA (Centro Acadêmico) não é um sindicato e não é um partido: é uma organização específica da militância estudantil. Na verdade, pode-se argumentar que um CA é a forma institucionalizada de organização dos estudantes e da luta do movimento estudantil (e portanto é por definição plural: contém todas as contradições do movimento estudantil, além de suas próprias, e seus militantes são dos mais diversos nominalismos políticos: sejam anarquistas, comunistas, social-democratas, liberais, etc., partidários ou não) de um curso de graduação, e, por isso, tem formas e tarefas diferentes daquelas dos partidos e sindicatos; a mais importante dessas diferenças sendo seus participantes. Logo de cara podemos fazer uma clara divisão entre aqueles que podemos chamar de militantes ativos e aqueles que podemos chamar de não-militantes, por falta de nome melhor: os primeiros, por razão ou outra, dedicam tempo razoável às questões estudantis; os segundos, geralmente não o fazem por que o Capital lhes rouba o tempo. Além disso, e a principal diferença dessa forma de militância é a questão da perenidade dos seus militantes: o tempo de atividade está atrelado diretamente à permanência na universidade dos militantes. Isso implica, é claro, que dos poucos geralmente ativos, menos ainda ficarão mais do que 5 anos ocupando este espaço. É importante notar porém que isso não torna a militância estudantil tarefa pormenorizada, ou mesmo tida apenas como espécie de ‘escola’ ou tempo de aprendizado: para isso basta notar a importância que movimentos estudantis tiveram ao longo da história, independente de suas finalidades; apenas demonstra um caráter único da militância estudantil de maneira geral, refletido na organização de um CA.
Tendo em vista essa característica única de seus militantes, podemos tirar daí a noção ética que será pano de fundo para as principais tarefas de um militante empenhado com a transformação social do espaço universitário: uma responsabilidade geracional, que, existente em outras formas de militância, parece aparecer de maneira mais visível na vida universitária. Essa responsabilidade geracional se trata justamente de entender que o espaço contraditório da universidade sendo construído já foi ocupado por alguém antes, e será também ocupado por outro alguém num futuro próximo. Assim, a primeira tarefa de um militante empenhado deve ser a formação de novos militantes, não apenas de maneira a manter o número de quadros ativos, mas também para transmitir a história viva do espaço e seus militantes anteriores, porque é nesta que está contida toda a teoria e toda a práxis de luta política do espaço, que deve ser retomada, rediscutida e aprimorada pelas próximas gerações (suprassumida, se assim preferem). É claro que essa formação pode ocorrer de várias formas, desde cursos, palestras, até através da própria vivência do espaço, não é minha intenção me debruçar sobre isso aqui.

    A segunda tarefa, também importantíssima, é a melhora da universidade em si, seja através da luta pelas pautas de permanência (afinal, quem pode dedicar tempo aos livros quando o Capital lhe rouba seu tempo como um vampiro esfomeado?), da luta pela mudança efetiva de normas de representação, etc. Claro, aqui deve ser feita a ressalva de que uma educação verdadeiramente emancipadora e desenvolvedora de toda a potencialidade humana só poderia ser feita, como sugere o título do livro do Mészáros, para além do Capital. Isso não implica porém que algumas mudanças pontuais não devam ser alvo para a militância estudantil, de maneira a garantir a permanência dos estudantes, não de maneira a cair num reformismo, buscando concertar uma estrutura cujas bases já nasceram comidas por cupins, mas justamente para cumprir com nossa responsabilidade geracional: são melhoras não para além do Capital, mas sobretudo para chegar além do Capital.

    Por fim, a última principal tarefa do militante empenhado é ser combativo, classista, antirracista, feminista, a favor da luta LGBTQIA+, indigenista e internacionalista. Essa por vezes parece a ser a mais difícil das tarefas, porque pressupõe, antes de tudo, que o indivíduo, além de suas responsabilidades individuais, tem sobretudo uma responsabilidade com o todo social. Rejeitar as lutas contra as opressões, lutas historicamente anticapitalistas, é rejeitar novos militantes, rejeitar a responsabilidade geracional inerente à ser um militante estudantil, e, portanto, é rejeitar a continuidade desta como um todo.